Contra degradação dos transportes públicos

Reduzir preços<br>e melhorar oferta

O PCP de­fende a adopção ur­gente de me­didas que travem a de­gra­dação em curso nos trans­portes pú­blicos. Só assim, ga­rante, será in­ver­tida a ten­dência de afas­ta­mento dos utentes ori­gi­nada pelo brutal au­mento dos preços e pela de­te­ri­o­ração da qua­li­dade do ser­viço pres­tado.

Os utentes pagam caro e são mal ser­vidos no que é um de­sin­cen­tivo à uti­li­zação dos trans­portes pú­blicos

«É ur­gente re­duzir preços e alargar a oferta, a qua­li­dade e a fi­a­bi­li­dade dos trans­portes pú­blicos», re­clamou o de­pu­tado co­mu­nista Bruno Dias, dia 26, ao levar de novo a ple­nário, em de­cla­ração po­lí­tica da sua ban­cada, a grave si­tu­ação exis­tente nas em­presas de trans­portes pú­blicos e a forma como isso se re­per­cute nos utentes e nos tra­ba­lha­dores do sector.

Além dos preços in­com­por­tá­veis e da con­tínua erosão na qua­li­dade da oferta avulta a re­ti­rada de car­reiras e de cir­cu­la­ções, a par do «ataque aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e utentes», apontou o de­pu­tado do PCP, su­ma­ri­ando al­guns dos fac­tores que tornam em muitos casos o mo­vi­mento pen­dular diário dos utentes, entre a casa e o tra­balho, um ver­da­deiro cal­vário.

«A su­pressão de car­reiras e cir­cu­la­ções na Carris, na STCP, na Trans­tejo e So­flusa é uma re­a­li­dade pra­ti­ca­mente ro­ti­neira. Os tempos de es­pera no Me­tro­po­li­tano atingem li­mites de que não há me­mória. Es­pera-se para com­prar bi­lhete ou pagar o passe, es­pera-se para em­barcar, tantas vezes à se­gunda ou à ter­ceira ten­ta­tiva, para vi­ajar como sar­dinha em lata», exem­pli­ficou Bruno Dias, que la­mentou a au­sência de me­didas prontas que ti­vessem re­posto a «ca­pa­ci­dade de res­posta das em­presas», como se im­punha, após a AR e o Exe­cu­tivo terem tra­vado os pro­cessos de fusão e pri­va­ti­zação de que as mesmas es­tavam a ser alvo.

Iden­ti­fi­cados foram ainda ou­tros fac­tores ne­ga­tivos como seja a de­gra­dação para «ní­veis mais do que pre­o­cu­pantes» da fi­a­bi­li­dade e se­gu­rança da ope­ração, caso da Linha de Cas­cais da CP.

Cortes e mais cortes

Pa­no­rama que no seu con­junto traduz o re­sul­tado de uma po­lí­tica im­posta du­rante anos e que com o an­te­rior go­verno PSD/​CDS as­sumiu pro­por­ções ainda mais de­sas­trosas. Re­cor­dada, a este pro­pó­sito, foi a me­dida por aquele to­mada que «obrigou a um nú­mero de tra­ba­lha­dores abaixo das exi­gên­cias mí­nimas ope­ra­ci­o­nais», uma outra que «con­gelou in­ves­ti­mentos ina­diá­veis», e outra ainda que impôs «li­mi­ta­ções ao fun­ci­o­na­mento das em­presas pú­blicas, para di­fi­cultar a sua ca­pa­ci­dade de res­posta ope­ra­ci­onal».

É neste quadro, e pe­rante o ca­rácter li­mi­tado e in­su­fi­ci­ente das res­postas do ac­tual Go­verno - traço que ficou de resto bem pa­tente nas afir­ma­ções do mi­nistro do Am­bi­ente em re­cente au­dição par­la­mentar re­a­li­zada por ini­ci­a­tiva do PCP -, que a ban­cada co­mu­nista sus­tenta a ne­ces­si­dade de, em pa­ra­lelo com a re­dução de preços e a me­lhoria da oferta, «repor o nú­mero de tra­ba­lha­dores ne­ces­sá­rios aos sec­tores ope­ra­ci­o­nais».

Tal como são ne­ces­sá­rios in­ves­ti­mentos nas «infra-es­tru­turas, nas frotas, nas ofi­cinas, nos equi­pa­mentos», es­pe­ci­ficou Bruno Dias, de­fen­dendo que tais in­ves­ti­mentos «devem ser pla­ne­ados para o médio e longo prazo, uti­li­zando ple­na­mente os re­cursos na­ci­o­nais e co­mu­ni­tá­rios, res­pei­tando as pri­o­ri­dades, mas pro­jec­tando já o de­sen­vol­vi­mento da rede de forma ade­quada».

Igual­mente cru­cial, para o PCP, é o in­cre­mento de uma outra po­lí­tica ta­ri­fária (ver caixa) ori­en­tada no sen­tido de pro­mover de facto a «in­ter­mo­da­li­dade, a uti­li­zação plena dos trans­portes pú­blicos, com mais abran­gência, com preços justos e atrac­tivos, res­pon­dendo aos pro­blemas ac­tuais das po­pu­la­ções e do ter­ri­tório».

Dis­traídos ou sem ver­gonha na cara...

O de­pu­tado do PSD Sérgio Aze­vedo, ava­li­ando o con­teúdo da de­cla­ração po­lí­tica do PCP, tirou a bri­lhante con­clusão de que se tra­tava de uma «ten­ta­tiva de bran­quear o pre­sente». Atri­buiu ainda a de­gra­dação no sector dos trans­portes, num ra­ci­o­cínio não menos pa­té­tico, ao que chamou de «re­ver­sões do Go­verno». A res­posta não se fez es­perar, com Bruno Dias a cons­tatar que o PSD «só co­meçou a andar de trans­portes pú­blicos de­pois de sair do go­verno», razão pela qual só agora teria co­me­çado a re­parar em pro­blemas (de que é co-res­pon­sável) que o PCP anda a de­nun­ciar há anos. Pro­blemas que afectam as po­pu­la­ções e para os quais a ban­cada co­mu­nista tem apon­tado so­lu­ções - mas sobre isso o de­pu­tado la­ranja não disse uma pa­lavra.

 



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